Arquivo Histórico


O Arquivo Histórico da Casa Pia de Lisboa reúne um importante e valioso património documental referente à vida desta Instituição desde a sua fundação em 1780 até à actualidade.
O seu acervo é composto, para além dos documentos administrativos e de missão, de mapas, plantas, desenhos dos alunos da Real Casa Pia e fotografias que vão desde os finais do século XIX, até meados do século XX.  As duas mil fotografias e duas centenas de Mapas e Plantas aliam-se ao património documental e artístico, contribuindo para evidenciar, de forma inequívoca, a riquíssima História da Casa Pia de Lisboa.
O Arquivo Histórico tem como objectivo, na sua missão de tornar o fundo documental disponível para quem o queira utilizar, preservá-lo enquanto fonte privilegiada de informação, capaz de reconstruir a história da Instituição e promover a investigação histórico - científica neste universo casapiano.
Está também implícito na missão do Arquivo Histórico o esforço na divulgação contínua deste património que se traduz na produção bibliográfica (livros, catálogos) e na execução de exposições e eventos.



CURIOSIDADES



Um Casapiano para conhecer
Carlos Alberto Ferreira da Silva, aluno 7669 da CPL, posteriormente Guarda Fisca,l foi agraciado com a medalha de prata de serviços distintos por serviços relevantes no Ultramar.
No Jornal “Novidades” de 5 de Abril de 1961 está explicada a circunstância que o tornou merecedor de tão importante condecoração.
Luvaca, Angola (dia 15 de Março): Após o amanhecer o comandante do posto fiscal é morto; prepara-se um cerco ao posto por mais de 300 homens.
A esposa do comandante vai em seu auxílio, é agredida pelos atacantes e amarrada, mas o Guarda Carlos Silva intervém, consegue resgatá-la do grupo atacante e num jipe levá-la para um local seguro, que atinge pelas 22 horas. Nesse entretanto, fez frente a numerosos grupos armados.
O seu Processo Individual da Casa Pia está muito completo e pode ser conhecido neste Arquivo Histórico.
Trata-se dum pequeno episódio entre muitos que sucederam por ocasião do levantamento da UPA em Angola.
JOÃO DOMINGOS BOMTEMPO
 [in Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, “Dicionário Histórico de Portugal” e Ernesto Vieira, “Diccionario Biographico de Musicos Portuguezes”]

Quando falamos de João Domingos Bomtempo, importante personagem na História da Real Casa Pia de Lisboa, não temos efectivamente noção da projecção deste vulto no nosso meio musical do século XIX.
Bomtempo foi, de facto, um importantíssimo pianista e compositor musical que viveu entre finais do século XVIII e meados do XIX.
O seu pai era um músico italiano que veio para o nosso País trabalhar para a corte do rei D. JoséJoão Domingos aprendeu com ele a tocar oboé, desde a infância.
Francisco Saaverio Buontempo (o pai) era membro da Orquestra Real e exímio executante desse instrumento musical.
Quanto às outras disciplinas musicais necessárias, estudou-as no Seminário Patriarcal, nessa altura a mais importante escola de música em Portugal.
Depois da morte do pai teve de apoiar financeiramente a família, tendo sido colocado como músico na Orquestra Real.
Frequentou com enorme êxito as mais especializadas instituições musicais (a Irmandade de Santa Cecília, a Bemposta, onde foi ‘cantor’,…).
Resolveu aperfeiçoar-se na sua Arte e seguindo o exemplo de Marcos Portugal (outro destacado compositor português do século XIX, que aprendia em Itália), foi estudar para Paris.
Esta foi também uma decisão de carácter eminentemente político, tendo tal sido avivado pelo facto de que essa época era aí extremamente favorável aos artistas, muito adulados e estimulados por aristocratas e burgueses.
Além do estudo realizado, criou bastantes obras homenageando personalidades destacadas, sobretudo da sociedade portuguesa.
Mudou-se depois para Londres, onde deixou obra feita e teve, igualmente, enorme sucesso. Sempre politicamente activo, contribuiu especialmente com a sua Arte (algumas composições musicais) para o festejo das vitórias anglo-lusas sobre as tropas francesas que haviam invadido Portugal. É de destacar, dessa época, um Hino dedicado ao aniversário de D. João VI.
Publicou seguidamente, ainda em Inglaterra, bastantes obras dedicadas a personalidades distintas das sociedades inglesa e portuguesa.
De regresso a Portugal, em 1815, num momento em que o País se livrara da Guerra Peninsular, não lhe foi possível destacar-se artisticamente devido às questões políticas que alastravam.
Teve, apesar disso, oportunidade de se evidenciar, compondo música para desfrute da alta sociedade de então.
Tentando várias vezes, nessa altura, criar em Portugal uma Instituição semelhante à Sociedade Filarmónica londrina e não tendo tido êxito, regressou a Londres, onde, além de obras musicais, concebeu também um ‘Método de Aprendizagem de Piano’.
 Voltou a Lisboa em 1816, ano da morte da rainha D. Maria I e voltou depois a Paris, numa época péssima para a cultura das Artes, dada a agitação política que aí grassava.
 Aquela que é considerada a obra-prima musical da sua autoria, a “Missa de Requiem Consagrada à Memória de Camões” (“link” no fim do texto), assim como outras do mesmo género, foram compostas numa época de constante deslocação de Lisboa para Londres e vice-versa, vindo Bomtempo, mais tarde, a tornar-se o músico favorito do Governo Constitucional e de D. João VI.
Conseguiu finalmente criar uma Sociedade Filarmónica em Lisboa, tendo sido dada por ela, em 1822
, uma primeira série de notáveis Concertos Periódicos, nos quais aproveitou para aperfeiçoar amadores, desenvolvendo o seu gosto pela música.Proibidos depois por D. Miguel, rei absolutista, os concertos passaram a realizar-se no Palácio Velho do Duque de Cadaval, com o apoio desse Duque, dos de Lafões, dos condes de Subserra, dos marqueses de Palmela e de muitos outros titulares, membros do corpo diplomático, banqueiros, comerciantes, homens de letras, etc.
Muitas obras de Mozart, Haydn e de muitos outros compositores “na moda” nessa época foram aí apresentadas.Tais concertos tiveram no entanto várias interrupções, sempre relacionadas com a instabilidade política de então.
Bomtempo, liberal por excelência, refugiou-se no consulado da Rússia durante esse reinado. Em chegado o Liberalismo, D. Pedro IV nomeou-o professor da sua filha, a infanta D. Maria (mais tarde rainha D. Maria II), tendo-o enchido de honrarias.
Por decreto de 5 de Maio de 1835 foi fundado o Conservatório da Real Casa Pia de Lisboa (ou Aula de Música da R.C.P.L.), provisoriamente anexo à Instituição, tendo Domingos Bomtempo sido o director e os professores aqueles que ensinavam à época no Seminário Patriarcal, que entretanto fora extinto. A sua reputação era de tal forma grande que os reis (D. Maria II e D. Fernando) foram padrinhos do seu filho.João Domingos Bomtempo faleceu em 1842, tendo a sua morte causado a maior consternação em Lisboa, de forma que se fizeram luxuosas exéquias e D. Maria II até deu ordem para que o féretro fosse conduzido num coche da Casa Real.
“Missa de Requiem Consagrada à Memória de Camões”
 

http://www.youtube.com./watch?v=rhPtPgFsc_M